Revista O Globo de domingo, a qual eu particularmente sou fã. Especialmente da coluna do Alberto Goldin, psicanalista que recebe cartas de leitores que dividem situações de vida que geralmente os afligem. Alberto responde nos proporcionando o equivalente à uma sessão de terapia escrita. Goldin escreve de um jeito único, especial.
Na coluna de ontem uma leitora divide conosco seu sofrimento por ter se separado do marido há seis anos e estar presa à ele até hoje. Relata que eram um casal que não brigavam, mas tinham grandes conflitos. Nunca quis acreditar que de fato terminariam, portanto continuou vivendo na ilusão de que em breve voltariam a estar juntos. Nunca se separaram formalmente, nunca dividiram os seus bens, o que já nos mostra como não oficializaram esta separação. Com o não-dito da separação, Suely continua fantasiando que a relação voltará.
Com isto se mantém solteira e como sempre funcionou em dupla com seu parceiro, "a sua solidão pode ser considerada como uma forma mágica de produzir idêntica solidão no seu ex-marido". Até que toma consciência de que ele está vivendo agora com uma colega de trabalho, o que a deixa arrasada.
Goldin desenvolve nos mostrando como a evitação de conflitos, silenciados por vozes de crianças, colégios e festas infantis só os afastou mais ainda. Suely já estava sozinha e não sabia. "Antes o perdeu por planejar o futuro. Agora se prejudica reconstruindo o passado. Em síntese, Suely perdeu o presente, que, sem dúvida, é o tempo verbal mais importante, quase imprescindível."
Suely vive um luto eterno, num ritmo melancólico onde o mesmo filme se repete sempre. "O calendário da Suely não muda todos os dias, nem se esgota. Quando acaba, recomeça. Os calendários que repetem os dias contrariam a natureza, onde cada dia tem o curioso privilégio de ser igual e diferente do anterior. Quando Suely amar novamente, descobrirá que com os homens acontece a mesma coisa".
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