Hoje eu quero falar de Abandono, mas não daquele tradicional abandono afetivo, ou de incapaz. Quero falar do abandono sentido. Estou falando da sensação do abandono, da perda e rejeição. O abandono não de ter sido deixado pelos pais ou algum ente querido, mas do abandono da ausência da presença. Parece complicado, vou explicar. Sabe quando você não se sente amado, mesmo quando escuta um eu te amo, ou não percebe atenção, porque na verdade o corpo da pessoa está, mas o olhar não toca. É esse abandono que realmente machuca e provoca trauma, uma situação psíquica com forte carga emocional. Isso sem contar naquela mãe que já abandonou o filho no ventre, porque ele não foi planejamento, ou o porque o resultado da ultrassonografia deu o sexo oposto do esperado, ou quem sabe o filho temporão indesejado, o filho da menopausa que jamais imaginara. Esses são exemplos comuns que me deparo diariamente.
Quando a criança é um bebê, ela necessita de cuidados básicos, principalmente da mãe e muitas vezes esse primeiro contato é negado. Quantas mães nunca amamentaram seus filhos e nem sentiram esse desejo, talvez ela não tenha sentido, mas a criança sim. Se esses cuidados básicos foram interrompidos de alguma forma a criança sente o abandono e passa a agir de forma independente entendendo que supostamente não pode contar com ninguém. Enfim, o contato materno é o primeiro sentimento de valor que o ser humano experimenta, a sensação de ter valor é essencial a saúde mental, caso isso não ocorra um sentimento evidente é o de baixa autoestima. Já atendi crianças com muito medo do pai ou a mãe morrerem e viviam estado de choro, ansiedade e vivendo em pânico só de imaginar.
Então podemos concluir que os fatos reais causam de fato traumas e transtornos emocionais, mas não podemos esquecer que a psiquê humana funcionada também com muita fantasia, as chamadas inseguranças internas de cada um, o mundo particular e obscuro, o tão famoso inconsciente. Sendo assim, o abandono não deve ter um diagnóstico alheio, pois o próprio sujeito evidenciará suas próprias necessidades. Esse abandono que falo, ninguém vê, apenas sente.